segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A BOLA ESTÁ COM OBAMA

Mario Augusto Jakobskind

Embora a crise econômica continue a dominar o noticiário, na área de política externa se vislumbra um cenário que pode surpreender. Então vamos lá.

Um fato político vem sendo silenciado pelos meios de comunicação estadunidenses e poderá ter grande significado se ocorrer uma mudança de enfoque em relação aos últimos mais de 10 anos.

Estamos falando da prisão de cinco cubanos nos Estados Unidos, acusados de espionagem. Se o presidente Barack Obama quiser mesmo virar a página do relacionamento entre os dois países poderia dar um passo concreto antes mesmo da suspensão do bloqueio: libertar Gerardo Hernández, Ramón Labañino, Antonio Guerrero, Fernando González e René González, que ainda estão aguardando a definição sobre a possibilidade de um novo julgamento, em outro Tribunal que não o de Miami, onde vivem cerca de um milhão de cubano-americanos, para que sejam corrigidas as aberrações jurídicas ocorridas no Tribunal daquela cidade.

No julgamento, acompanhado por figuras notórias de grupos anticastristas de direta, não foram levados em conta até depoimentos de militares estadunidenses que negaram a acusação segundo a qual os cubanos eram espiões.

Claro, resta saber se Barack Obama está mesmo disposto a fazer o gesto de grandeza concedendo um indulto aos cinco cubanos que são considerados heróis pelo povo da ilha caribenha. Ou se terá força política para tal gesto?

Em outra área do planeta, Barack Obama já acenou para a possibilidade de abertura de diálogo com o Irã, o que foi respondido positivamente pelo “radical” Mahmoud Ahmajinejad. Para um início de governo, não há dúvida que significa um passo adiante em relação ao obscuro período Bush. Mas ainda é preciso aguardar para saber que tipo de diálogo está sendo proposto, se é que ocorrerá, se não haverá imposições da parte estadunidense. Resta também saber também se o aceno de Barack Obama significou apenas uma peça de retórica que não leva a lugar nenhum ou é para valer.

Não há dúvida que a área em questão é explosiva e qualquer erro ou mesmo mau entendido poderá originar um conflito bélico de grandes proporções. Os jornais estadunidenses informaram que no ano passado o governo israelense teria sugerido ao então presidente George W. Bush que iniciasse uma ação militar contra o Irã. Até Bush teria recusado, segundo ainda a imprensa norte-americana. Mas Israel, o aliado preferencial dos Estados Unidos na região, foi contemplado por Bush com um acordo militar que prevê a compra de mais de dois bilhões de dólares em armamentos, o que foi saudado efusivamente pelo complexo industrial militar, setor que não está sendo afetado pela crise e aposta no agravamento dos confrontos entre israelenses e palestinos e em outras partes do mundo, pois as mortes são lucrativas para o setor.

Não é preciso nenhum mergulho analítico profundo para concluir que o aceno de diálogo com o Irã por parte de Barack Obama desagradou o lobie judaico nos Estados Unidos. Neste momento podem estar ocorrendo mexidas de peças nos bastidores que ainda não vieram à tona e que poderão alterar profundamente o cenário político da região. Resta aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

Um complicador, não resta dúvida, foi o resultado da eleição em Israel onde a direita ficou ainda mais forte com a ascensão parlamentar de notórios políticos extremistas anti-árabes. O partido Kadima, da chanceler Tzipi Livni, uma ex-agente do Mossad, o serviço secreto de Israel, saiu vencedor por uma margem de uma cadeira no Parlamento sobre o ainda mais a direita Likud, de Benyamin Netanyahu, enquanto um partido de caráter fascista, como o Yisrael Beiteinu, do racista Avigdor Lieberman, tornou-se o fiel da balança. Podem imaginar o que vem por aí. A tal rota do Caminho da Paz, sob o patrocínio dos Estados Unidos, chegou praticamente ao fim. Vai virar mais uma peça de museu.

Por estas e ainda muitas outras, o presidente Barack Obama terá enormes problemas pela frente. Logo de saída terá de dizer se continuará apoiando Israel incondicionalmente, inclusive na linha ainda mais extremista como se vislumbra, ou dará um chega para lá nas pretensões dos dirigentes que estão tornando Israel um país delinqüente.

Ah, sim, com o agravamento dos confrontos, o Afeganistão, segundo analistas, poderá ser o Vietnã de Obama. Aguardemos também o desenrolar dos acontecimentos.
Fonte:Direto da Redação

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