Sem os milhares de milhões de dólares da China não teria sido possível o boom nos Estados Unidos. E sem os dólares que Pequim enviava novamente para os EUA, a bolha do mercado imobiliário americano não teria aumentado tão rapidamente. Agora foi quebrado o pacto diabólico que tinha sustentado durante estes anos os Estados Unidos e a China e, assim, também a economia mundial.
Um comentário de Ulrich Schäfer, no Süddeutsche Zeitung
Era uma vez um pacto, pelo qual está hoje o mundo inteiro a pagar. Quem o celebrou foram os Estados Unidos e a República Popular da China. Em princípio, funcionava assim: os americanos viviam tranquilamente a crédito, entregavam-se ao seu estilo de vida excessivo e compravam o que lhes apetecia. Os chineses, por seu lado, ganhavam faustosamente com o apetite de consumo dos cidadãos americanos, fornecendo aquilo que as pessoas em Michigan ou em Alabama precisavam: brinquedos, têxteis, sapatos ou computadores. E recebiam em troca centenas de milhares de milhões de dólares por ano.
Graças à fúria consumista americana, a China elevou-se a terceiro poder económico mundial, colocando-se ainda antes da Alemanha. Além do mais, o país passou subitamente a dispor de mais dólares americanos do que qualquer outro no mundo, tudo somado, mais de 1,8 biliões. Isto ultrapassava a quantidade de notas de banco e moeda que os próprios americanos tinham nas mãos. Os chineses eram suficientemente inteligentes para não acumularem estas divisas, mas sim aplicá-las onde elas maiores proveitos lhes traziam: nos Estados Unidos. Pequim colocava as suas reservas de divisas em empréstimos obrigacionistas americanos, sobretudo em obrigações do Estado e possibilitava assim aos americanos endividarem-se ainda mais e poderem comprar ainda mais - na China, mas também na Europa.
Sem os milhares de milhões de dólares da China não teria sido possível o boom nos Estados Unidos. Sem este dinheiro também Wall Street não teria crescido à velocidade com que cresceu. E sem os dólares que Pequim enviava novamente para os Estados Unidos a bolha do mercado imobiliário americano não teria aumentado tão rapidamente como sucedeu. Agora a bolha rebentou, a economia mundial ficou mergulhada na pior crise desde há oito décadas e foi quebrado o pacto diabólico, aquele pacto que tinha sustentado durante estes anos os Estados Unidos e a China e, assim, também a economia mundial. Porque agora os consumidores americanos retêm o seu dinheiro, enviam cada vez menos dólares para a China, enquanto o governo em Washington acumula dívidas cada vez mais elevadas. O novo presidente Barack Obama tem já que se haver com vários biliões de dólares de dívidas.
A pergunta decisiva é então: quem paga tudo isto? Quem dá, para esse efeito, crédito a Obama? Os bancos não o vão fazer, porque estão mais ou menos falidos. Os cidadãos não o vão fazer, porque estão a poupar. E os chineses dificilmente estarão dispostos a financiar novas dívidas à América. Porque também a terceira economia do mundo se está a degradar a um ritmo de cortar a respiração.
Os propagandistas em Pequim ainda se mantêm agarrados à sua previsão de que a economia do país vai crescer oito por cento este ano. Mas se se olhar para os números mais recentes das exportações só muito dificilmente se pode imaginar um tal crescimento. As chefias em Pequim tentam tudo para impedir a queda. Colocam centenas de milhares de milhões de dólares na economia nacional. Para a América não vai restar muito.
Já de há longa data que os economistas temem este desenvolvimento. Falam de "desequilíbrios globais", que com o tempo se tornam insustentáveis. Mas esta formulação é uma paliativo para o problema. Mesmo nos comunicados da cimeira dos sete países mais industrializados foram feitos avisos, já desde há anos, sobre estes desequilíbrios, sem que ninguém daí retirasse consequências. Agora o mundo inteiro paga por esta negligência.
Também os chineses sofrem neste momento em consequência daquele que foi anteriormente o seu ponto forte. Porventura virá ainda a acontecer-lhes o que já está a acontecer aos russos. As suas exportações, sobretudo de petróleo e gás natural, caíram, as reservas de divisas volatilizam-se, o rublo começa a rolar. "Quando a China se levantar, o mundo tremerá" disse uma vez Napoleão. Hoje diz-se: quando a China cair em dificuldades, de igual forma o mundo tremerá. 11/02/09 .
Fonte:Esquerda.net
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