segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

GANÂNCIA MORTAL.

Cláudio Lessa

Brasília (DF) - Certas coisas nunca mudam no Fazendão. Uma delas é a ganância de herança lusitana, que pode ser alcunhada, algumas vezes, de "capitalismo mais que selvagem". Na Região Norte, essa ganância é mais visível - e mais trágica - no setor de transportes: de vez em sempre, barcos apinhados de gente acabam afundando nas águas escuras dos rios. São mortos pra todo lado, são corpos que nunca serão resgatados, é uma fiscalização que nunca existirá.

Agora, ao que tudo indica, a súbita melhora nos indicadores econômicos (sem a correspondente e necessária melhora na mentalidade das pessoas - algo que só se consegue por meio da educação, para desespero do analfabeto-mor e seus aspones) transfere o problema para o setor aéreo. Um avião preparado para transportar de dezesseis a vinte pessoas decola com vinte e oito a bordo - mas... olha a ganância aí, registra apenas vinte. Lá no alto, um dos motores pifa. Não há tempo nem de disputar no palitinho quem vai ter que saltar, com ou sem paraquedas, muito menos abrir o compartimento de carga e aliviar a aeronave. Ela acaba caindo no rio. Os quatro mais espertos (ou sortudos), que ficaram imprensados contra a porta de emergência, são os únicos a sair com vida.

Pergunta: você aceitaria viajar num avião com mais outras vinte e sete pessoas, ainda que a aeronave tivesse apenas vinte assentos? Ah... vai ver que os gênios da Região Norte, inovadores no sistema de "overbooking" para táxis aéreos, ainda não conseguiram encontrar no dicionário a tradução para essa estranha palavra estrangeira, ou então acharam que tinha alguma coisa a ver com excesso de livros dentro de um avião - o que, evidentemente, não seria o caso nesse acidente.

Outra coisa que nunca muda no Fazendão é a utilização de um veículo automotor por "morrinhas" - aqueles que, consciente ou inconscientemente, travam o tráfego, criam situações de acidente, atrapalham a vida de quem dirige. Já tive a oportunidade de compartilhar com você, leitor(a), aqui neste espaço a minha repulsa às Kombis, fechadas ou abertas (usadas para "fretes"), e avisá-lo(a) quanto aos perigos de dirigir perto de uma dessas ameaças ambulantes. Novamente, não me pergunte o motivo de ser a Kombi o carro preferido pelos "morrinhas" das nossas ruas e estradas. Cheguei à constatação depois de anos de cuidadosa e paciente observação, sem contar alguns riscos de acidente.

Agora, no entanto, preciso fazer um "update" para você que lê esta coluna: depois do surgimento da Kombi com motor refrigerado a água, por algum motivo o veículo deixou de ser a preferência dos "morrinhas". Claro, as velhas Kombis continuam reinando como um perigo constante, por todo lado. No entanto - e esta é uma observação ainda restrita às ruas de Brasília - surge uma nova classe de "morrinhas" no tráfego: a dos motoristas de Fiat Uno Mille.

É engraçado como os tempos mudam. Quando comprei meu primeiro Fiat 147, de faróis quadradinhos, em 1977, o carro era de uma valentia e esperteza só. Passava por cima do Fusca, Gordini e até do Corcel sem dificuldade. Tinha excelente estabilidade e era o mais econômico da época. Hoje, o seu bisneto Uno Mille tem a mesma forma (com "ô"), um motor razoável, a venerável facilidade de se desvencilhar do tráfego pesado por ser fácil de manobrar, mas... os motoristas que preferem esse tipo de carro andam como tartarugas, criando todo tipo de dificuldades e perigos para os outros condutores.

O fato me chama atenção desde o ano passado, antes da marolinha que continua virando tsunami. Isto significa que o fato de o Uno Mille ter um motor 1.0 não pode servir de desculpa para que os "tô- na-eme" prefiram o veículo e ainda por cima andem quase parados para economizar combustível ou façam conversões nos lugares menos apropriados e mais perigosos. Afinal, na mesma classe do Uno Mille estão o Gol, Celta, Corsa, Palio, Clio - e com nenhum desses se observa tão flagrantemente a "morrinhagem" no tráfego.

Sem que se possa oferecer uma explicação plausível, fica o alerta: se você vier a Brasília, dirija com cuidado redobrado quando tiver um Uno Mille por perto.

Fonte:Direto da Redação.

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