Paulo Moreira Leite
Os psicólogos explicam os trotes estudantis como um ritual de iniciação. Eu acho que é um ritual de menino rico.
Jovens da mesma idade — mas pobres — tem a mesma carga de hormônios mas morrem na periferia quando são apanhados com um baseado ou um cachimbo de crack. Eles se matam entre si. Sua iniciação explode naquelas festas que a mídia exibe como ritual pornográfico e muitas vezes termina em execuções policiais.
Os jovens ricos podem se transformar em feras incontroláveis. Em 1999, alunos de uma Faculdade de Medicina mataram um calouro por afogamento. Em 1980, mataram outro por espancamento. Estes jovens crescem, se formam e são substituídos por outros, que fazem a mesma coisa. Nada mais previsível do que o calouro que se transforma em veterano e depois em ………………
O trote destes garotos é a escola da impunidade, essa porta que só se abre para poucos. Sua certeza é de que podem fazer o mal. Esqueçamos a violência: eles humilham, ofendem, envergonham. Imagine como irão reagir quando, já adultos, forem apanhados numa falta, numa falha, num erro? Imagine se um deles virar deputado?
São filhos da opulência e da arrogância. Eles aprendem, desde cedo, que não há nada a temer. A lei existe para serví-los e a ordem, para ajudá-los.
Nem todos agem dessa forma. Muitos são educados, corretos e honestos.
Mas impunidade é para quem pode.
Alguma dúvida?
(Queria agradecer a contribuição de leitores e comentaristas que me permitiram esclarecer alguns pontos desta nota)
Fonte: Revista Época
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